Por Pollyanna Xavier
Felipe Tobler Lemgruber, ex-servidor do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, foi preso no dia 18 de setembro, em um apartamento da Barra da Tijuca, no Rio, após quase três anos foragido. Ele foi denunciado pelo Ministério Público por crime de falsificação de documentos e estelionato – por operar um esquema de pirâmide financeira, movimentando milhões de reais e lesando dezenas de vítimas, dentre servidores públicos, professores, advogados e até juízes. Felipe está em uma cadeia pública de São Gonçalo e não ofereceu resistência ao ser preso.
A história de Felipe Lemgruber foi contada pelo aQui em pelo menos quatro reportagens diferentes. A primeira foi em novembro de 2021, quando o Ministério Público ofereceu denúncia contra o ex-servidor. Na época, Felipe,que é advogado e concursado como analista judiciário do TJ-RJ, era auxiliar de um juiz e trabalhava no Fórum de Barra do Piraí. Ele atuava como trader esportivo e realizava apostas em plataformas online de jogos de tênis com a promessa de lucros que chegavam a 40% do valor apostado. Sem conseguir manter o combinado, Felipe acabou encrencado.
Em janeiro de 2022, o Portal dos Procurados – que auxilia a Polícia Civil do Rio na captura de foragidos da Justiça – publicou o cartaz de Felipe Lemgruber como foragido da Justiça de Barra do Piraí. Na semana passada, porém, o Ministério Público republicou o mesmo cartaz, desta vez com a inscrição ‘preso’, sobre a foto de Felipe. Visivelmente mais gordo, o ex-servidor foi capturado em um endereço nobre da Barra da Tijuca. Ele foi preso por agentes da Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI/MPRJ) e da Coordenadoria de Inteligência da Investigação (CI2/MPRJ), em cumprimento ao mandado de prisão expedido pela juíza da 2ª Vara de Barra do Piraí, Katylene Collyer Pires de Figueiredo.
O aQui teve acesso aos autos do processo, cujo sigilo foi quebrado pela juíza do caso. Nele consta que as contas bancárias de Felipe foram bloqueadas com o valor de R$ 273.259,85. Para se ter uma ideia, o saldo bloqueado não chega nem a 10% do que ele teria, supostamente, lesado suas vítimas – algo em torno de R$ 3 milhões. Ainda nos autos, há informações do Ministério Público dando conta que Felipe já respondia a processos anteriores por diversos crimes de estelionato, cometidos contra vítimas em sua maioria ligadas ao poder judiciário. Ele utilizava sua posição e credibilidade para captar recursos, prometendo investimentos com alto retorno e sem riscos.
Em julho de 2021, Felipe concedeu uma entrevista ao aQui para contar a sua versão dos fatos. Na época, embora não existisse mandado de prisão contra ele, seu paradeiro já era desconhecido. “Não estou escondido, só temo pela minha vida e estou aguardando a decisão judicial”, disse na ocasião. Ele também se declarou viciado em jogos online de apostas e disse sofrer de depressão. “Minha dependência em apostas foi determinante para que tudo isso acontecesse. Porém estou em tratamento contínuo (…) Além do vício, passei a ter depressão grave, síndrome do pânico e tendência de autoextermínio”, declarou. Há quem acredite que a fala de Felipe era parte de uma estratégia jurídica para reduzir sua responsabilidade penal.
Segundo apurado pela reportagem, a última movimentação do processo de Felipe Lemgruber foi uma certidão de citação, para que ele apresentasse sua defesa prévia por escrito e se manifestasse nos autos dizendo se possuíaadvogado ou se desejaria ser defendido pela Defensoria Pública. Até o fechamento desta edição, não havia resposta aos questionamentos da Justiça. Felipe Lemgruber permanecerá preso preventivamente até o dia 19 de outubro, quando a juíza irá analisar se ele permanece preso até o julgamento ou não.