“Até agora, só vi morrer bandido”. Foi assim, com essa frase polêmica e impactante, que o prefeito de Barra Mansa, Rodrigo Drable, falou sobre os últimos acontecimentos envolvendo policiais e traficantes de duas facções que estariam supostamente brigando pelo poder na Vila Delgado. Os vídeos com direito a som de tiros disparados entre as forças de segurança e os bandidos tomaram conta das redes sociais, criando um clima de insegurança, que Drable tenta descartar o mais rápido possível. Para ele, a Polícia Militar tem domínio da situação. “Não existe guerra de facções. É enfrentamento de bandidos contra a polícia. A Vila Delgada continuará ocupada”, disparou.
A ocupação da Vila Delgado começou na noite de terça, 26, e envolveu agentes da Polícia Militar e da 90ª Delegacia de Polícia. Foi motivada após as forças de segurança terem recebido a informação de que criminosos do Comando Vermelho iriam tentar “tomar” o poder das mãos do Terceiro Comando. Para fontes da polícia, a invasão comprovaria a guerra de facções em Barra Mansa, que é descartada pelo prefeito Rodrigo Drable.
No final, após tiroteio e muito corre-corre de mora- dores, dois suspeitos foram presos, e duas pistolas e farta quantidade de droga foram apreendidas. Uma moradora, avó de um dos presos, ficou ferida com estilhaços de disparos de fogo, sendo levada para a Santa Casa de Misericórdia, onde foi atendida. Ela já recebeu alta. As forças de segurança entendem que tudo começou poucas horas antes da ação na Vila Delgado. É que na madrugada de segunda, 25, para terça, 26, um homem foi morto dentro de sua casa, na Rua D do Condomínio Aymorés, na Colônia Santo Antônio. Trata-se de Rubens Xavier Junior, 40, que teria envolvimento com o tráfico de drogas. Segundo a Polícia Militar, ele estava deitado em uma cama quando foi baleado. Uma equipe da perícia esteve na cena do crime e encontrou 30 munições, três projéteis não deflagrados, um fragmento de chumbo e cinco cápsulas de cocaína com a descrição de uma facção criminosa.
Na quarta, 27, outro vídeo chocou os moradores de Barra Mansa ao circular pelas redes sociais mostrando um homem morto, caído no meio da rua. Ele teria sido apontado como responsável por uma suposta tentativa de assalto a uma padaria. Outro homem, não identificado, foi preso por policiais e também estaria envolvido no fracassado assalto. O caso aconteceu no bairro Nova Esperança. Segundo a Polícia Militar, um policial à paisana, lotado no 37° Batalhão (Resende), tentou evitar o crime e foi alvo de tiros, tendo revidado. O suspeito atingido pelos disparos não resistiu e morreu no local. Já o suspeito preso foi encaminhado para a delegacia de Barra Mansa junto com um revólver calibre .38 e três munições, uma picotada e outras duas deflagradas.
Sem negociação com bandido
Em entrevista exclusiva ao aQui na manhã de quinta, 28, o prefeito Rodrigo Drable abriu o jogo sobre as operações policiais em Barra Mansa. Inicialmente, disse não acreditar em ‘guerra de facções’. “É enfrentamento dos bandidos. Contra a polícia. Em todo momento é a polícia que está dando tiro. Você não viu em nenhum momento tiro de fuzil que não tenha sido disparado pela polícia. Guerra de facções não é. Não é guerra de bandido contra bandido, é de bandido contra a polícia. Não é guerra de facção”, avalia, garantindo estar acompanhando tudo em tempo real.
Drable também observou que nas manifestações de populares contra os policiais na Vila Delgado, por exemplo, os moradores teriam sido estimulados pelos bandidos ligados ao tráfico de drogas. “As pessoas estavam lá por ordem do tráfico. Ninguém põe a cara no meio do tiroteio só por curiosidade. É pressão do tráfico. Foi pra rua a troco de nada? É o tipo de enfrentamento do tráfico contra a polícia. Se não tivesse esse enfrentamento, não teríamos uma situação dessa. Prova que a Polícia está atuando. E nós temos que escolher o que queremos: enfrentar o crime ou não. O enfrentamento ao crime é isso. Não tem como tirar o traficante da boca de fumo sem que ele resista”, completou, ressaltando que ninguém nunca viu um bandido armado não oferecer resistência. “Até porque ele tem arma para isso mesmo”, disse. Drable disse ainda ao aQui, com exclusividade, que Barra Mansa registra, sim, um aumento do tráfico de drogas e uma expansão das facções nas suas áreas de atuação. “E é justamente nisso que a Polícia Militar está atuando agora, para não deixar crescer. E tem meu total apoio. Eu até agora só vi morrer bandido”, pontuou. “O número de crimes não aumentou. O que aumentou foi a reação da Polícia. Não vemos notícia de ‘padaria assaltada’, tem de ‘homem foi morto ao tentar assaltar padaria’”, exemplificou, tentando explicar a manchete dos jornais diante do caso. “Isso comprova que a Polícia está atuando”, frisou. “E eu gostaria de aumentar ainda mais o efetivo da PM em Barra Mansa”, completou. Tem mais. Drable também gostaria que fossem feitas mais operações policiais nos bairros de Barra Mansa onde é flagrante a atuação de traficantes. “Quero que prendam todos (os bandidos). Lógico que não torço para a morte de ninguém, mas que prendam todos”, disse, lamentando apenas que em alguns pontos (bairros) a população fique ao lado dos bandidos. “Mas acho que isso é por conta da pressão dos traficantes. Na Vila Delgado, por exemplo, as pessoas foram defender os bandidos. As pessoas estavam lá por ordem do tráfico. Elas tinham que se manifestar. O que não podemos é vulgarizar cenas de bandidos armados andando nas ruas como se fossem policiais, porque eles não são”, concluiu.
Taxa de homicídio
Apesar dos últimos acontecimentos, a taxa de letalidade violenta (homicídios culposos e através de ações policiais) diminuiu em Barra Mansa. Segundo dados do Instituto de Segurança Pública, de janeiro a outubro deste ano, por exemplo, foram 49 casos. O número é inferior se comparado ao mesmo período de 2023, quando ocorreram 69 casos.